sábado, 16 de fevereiro de 2008

BAUDELAIRE O DANDY DA MODERNIDADE por:Marcos T. R. Almeida


"Traguei um bom gole de veneno - seja três vezes abençoada minha resolução! Minhas entranhas ardem. A violência do veneno contrai-me os membros, desfigura-me, arroja-me ao chão. Morro de sede, sufoco, não posso gritar, é o inferno, as penas eternas! Vede como o fogo se levanta! Queimo-me como convém. Vai, demônio! - Rimbaud (1854-1891) - "Noite no Inferno"

Para falar de Baudelaire, temos que evocar o "spleem" e o "dandysmo" parisiense do seu tempo. É preciso conhecer pelo menos teoricamente, alguns pontos importantes de Paris, a cidade mais charmosa do mundo, onde todos os prazeres podem ser provados, de acordo com os bolsos.
O "dandysmo" foi a religião oficial do poeta e o "spleem" foi a única sensação que ele soube cantar na sua lira, evocando em harmoniosas combinações um misto de benções e maldições nunca antes cantados por nenhum poeta mais ousado.
Baudelaire morreu em 31 de agosto de 1867, vitimado de um mal singular, uma paralisia agravada pelo avanço da sífilis. Padeceu o poeta de um pesadelo endêmico do inferno, onde a dor física e a angústia da alma intercalavam-se para torturá-lo de todas as formas possíveis.
Henri Troyat, membro da Academia Francesa, fez um estudo da vida e da obra do poeta, juntando em uma biografia, as principais cartas escritas, referentes à várias épocas e períodos diferentes da vida do dandy de Paris.
O jornal francês "Le Figaro" publicou um artigo referente à biografia de Baudelaire escrita por Troyat. Em destaque, um trecho do artigo:

"Troyat penetra nos mistérios da alma atormentada de Baudelaire. Graças à fluidez de seu estilo e às suas e sensatas observações, sentimos o autor de "As Flores do Mal" muito próximo de nós".

De fato, Baudelaire está muito próximo de nós em espírito, mas para compreendê-lo, o leitor que busca sensações perversas, deverá consultar suas obras.
A violência satânica de Baudelaire está em suas "As Flores do Mal". Ali estão reunidas todas as suas experiências e emoções mais profundas. Esta obra parece ter nascido dos esgotos e prostíbulos da velha Paris, a cidade das artes e dos prazeres.
"As Flores do Mal" é um livro complexo que evoca todas as faces de uma alma sensível que vive em meio ao torvelinho do acaso, chafurdando ora em meio às orgias com as mulheres da vida fácil, ora em meio aos elegantes ambientes artísticos de luxo e pompa, onde é mister ser um elegante "dandy", cavalheiro fino e culto.
Na história da literatura, Baudelaire é visto como um poeta maldito que tem Satã como pagem. Ele é por se assim dizer, o pai dos poetas malditos, e depois dele outros surgiram, mas cada qual com seu próprio estilo e grandeza, e entre os "malditos" destacaram-se: Stéphane Mallarmé, Villiers, Corbière, Verlaine, Rimbaud, Nerval, Lautréamont, e tantos outros!
Neste universo de sensações, deparamos com complexa diversidade de estilos e tendências, pois nenhum deles constituíram verdadeiramente um grupo literário compacto, mas cada qual viveu e produziu separadamente sua obra de arte no mundo da poesia.
Paris, no tempo de Baudelaire, é uma cidade agitada, onde fervilha o progresso e as artes. Os "cafés" são os pontos de encontro dos "bons vivants". Os teatros estão no ritmo idílico da música clássica, compositores brilham e estreiam suas principais obras, onde o bom gosto atinge a mais alta expressão na harmonia sinfônica.
Tudo em Paris está fervilhando num verdadeiro formigueiro de paixões mundanas, a vida flui intensamente e todo mundo quer participar deste universo dionísico de prazeres.
Baudelaire está neste meio, vestido à moda "dandy" de sobrecasaca e gravata, ele fuma sossegadamente o seu cachimbo num canto qualquer de uma destas casas noturnas e observa atento todo esse ritmo contagioso...
Num outro canto da velha Paris, existe paralelamente os guetos e os submundos da prostituição. Mulheres de vida fácil vendem o corpo em orgias desenfreadas, satisfazendo assim à todas as taras dos mais afortunados.

"Paris que se diverte...", como escreveu Albino Forjaz de Sampaio, "Paris! E só esta palavra diz, não sei que estranhos mundos de sonho, de volúpia, de enternecimento". "E há milhões de almas sonhando Paris, endeusando-a, desejando-a com amor, com frenesi como se deseja uma mulher amada que vive em outro continente". "E todos os povos do mundo tem a idéia de que Paris é a grande cocote, a licenciosa barregã, de espírito vivo e azougado champanhe com quem se passa as noites de folia e os dias de prazer...".

Paris parece mesmo um sonho repleto de luxúria e longe de ser somente ilusão. A cidade vive intensamente o ritmo da modernidade!
Existem duas Paris, uma de sonho e ilusão, outra de podridão e miséria. Baudelaire saberá interpretar este contraste social...
Antes mesmo de publicar suas "As Flores do Mal", ele traduziu Edgar Allan Poe para o francês e a obra do grande mestre do terror passaria a assombrar os leitores da França através de Baudelaire.
O poeta descobre em Poe, um traço de sua própria personalidade, onde o espírito encabrunhado de Poe, errante e cheio de mistério, torna-se uma espécie de mentor espiritual.
Como nas próprias palavras de Edgar Allan Poe, "o mistério envolve meu destino por todos os lados", Baudelaire sentirá pesadamente a amargura destas palavras como se fosse ele mesmo quem as tivesse pronunciado...
O "dandy" do terror influenciara Baudelaire para o resto de sua vida, como se o poeta estivesse fadado a ver e sentir os mesmos males que Sir Poe expressou na sua obra!
Numa comunhão espiritual com o escritor da América, Baudelaire escreveu:
"Ponho o meu rosto sobre o seu...". Mais tarde, Alexeieff interpretara esta frase no manifesto que ficou conhecido em Paris como "Baudelaire e Poe".
Baudelaire é um homem ousado, mas a sua ousadia muitas vezes levou-o aos excessos que de uma maneira ou outra acabou contaminando-o, e tão logo ele deitou-se com uma prostituta, contraiu uma infecção denominada blenorragia, uma espécie de inflamação das membranas mucosas da uretra, o que hoje para nós chamamos gonorréia.
Naqueles dias, contrair uma doença de Vênus não era algo fácil de se tratar, pois a medicina somente viria a descobrir a maioria dos antibióticos para determinados vírus no começo do século XX.
Um farmacêutico de nome Denis Guérin receitou-lhe uma droga denominada "opiato balsâmico" e ele faz um demorado tratamento para se ver livre daquele mal venéreo...
Para Baudelaire, não importava a pena que ele teria que pagar, importava-lhe só os prazeres do êxtase apenas, mas na sua alma ficou gravada para sempre uma impressão estranha de prazer e infecção venérea...
O traço mais marcante e decisivo de sua personalidade era segundo seus biógrafos, a maneira exótica da sua vestimenta à moda "dandy", longo sobretudo preto, camisas de seda, coletes, sapatos brilhantes de graxa, gravatas vermelhas, calças de estilo refinado tipo aristocrata, cabelo sempre bem curto e rosto carrancudo, barbeado. Fino e elegante, Baudelaire era uma figura exótica, diferente, sempre distinta e perfumada das mais puras essências de água de colônia.
Uma espécie de pioneiro gótico, com estilo de punk de butique que pintava de verde os cabelos desafiando os bons costumes do seu tempo!
A excentricidade do poeta demonstrava que de sua alma emanava o espírito puro da liberdade plena e contestação plena da vida, uma espécie de répobro elegante, sinistro não somente pela aparência mas também pelas atitudes de comportamento social.
A princípio, teve um excelente pai, que quando o poeta era ainda uma criança levava-o ao jardim de Luxemburgo para contemplar as belas estátuas. Mas, por uma fatalidade, o pai morreu ficando ele, Charles, com sua mãe, sua querida e amável mãe, como ele mesmo descreveu.
Uma relação meio édipoiana começa a ocorrer entre Charles Baudelaire e sua mãe. Mais tarde, já adulto, Charles iria lembrar esta relação:
"O gosto precoce por mulheres... Eu confundia o odor das peles com o odor da mulher, recordo-me... Enfim, gostava da minha mãe pela sua elegância. Era, portanto, um "dandy" precoce."

Sua mãe, passado algum tempo de tristeza e viuvez, acabou por conhecer outro homem, o Sr. Aupick, que acabou casando-se com ela, tornando-se então uma espécie de rival de Charles Baudelaire.
Ninguém melhor do que Maxime Du Camp para descrever o poeta, afinal Du Camp foi um de seus melhores amigos:

"Baudelaire era forte muscularmente, mas no entanto havia nele qualquer coisa de arruinado, de abúlico, de surmene..."

Eu creio firmemente que nenhuma alma é tão triste como a alma dos poetas. A tristeza que nasce da poesia é sempre mais profunda e complexa, talvez por abranger profundidades de abismos e oceanos, onde o julgo comum não consegue alcançar jamais!
Esta percepção que ocorre em proporções dantescas na alma dos poetas, ganha uma força de Hércules quando é embasada por um conhecimento filosófico, sendo assim enriquecida pela meditação da realidade mediante à fantasia dos sonhos e das paixões.
Baudelaire era uma espécie de visionário e bastava-lhe uma noite somente para juntar em um poema todo seu conhecimento filosófico mediante sua sensibilidade de poeta para poder escrever um verso que muitas das vezes traduzia o seu estado de alma:

"Sempre a tolice e o erro, culpa e sovinaria. Trabalham nosso corpo e ocupam nosso ser. E aos remorsos gentis, nós damos de comer. Como o mendigo nutre a sua piolharia."

"Frouxo é o arrependimento e tenaz o pecado. Por nossas confissões muito é que a alma reclama, voltando com prazer a um caminho de lama, crendo as manchas lavar com pranto amaldiçoado."

"É o diabo que nos move através de cordéis! O objeto repugnante é o que mais nos agrada. E o inferno a descer um degrau da escada, vamos à noite errar por sentinas cruéis."

"Tal qual como um libertino e que beija e mastiga. O seio sofredor de velha messalina. Furtamos ao passar um prazer disfarçado. Que esprememos assim como uma laranja antiga."


"E se o estupro, o veneno, o incêndio e a punhalada, não puderam bordar com seus curiosos planos, a tala garça vã dos destinos humanos, é que nossa alma enfim não é bastante ousada!"

Baudelaire lapida as palavras como um escultor lapida a pedra bruta. Mas não é de granito, mas sim o mármore polido, o produto final da obra de Baudelaire. Ele é como um homem da renascença, idealizador de um novo mundo reconstruído sobre aquilo que sobrou da idade do ouro do passado da humanidade.
Este homem trabalha a matéria bruta, ou seja, sua própria realidade de homem moderno com os padrões e os comportamentos da modernidade, e vai transformando através do espírito todas as suas experiências em verdadeiras obras de arte!
Para Baudelaire, o passado está perdido para sempre pela força indestrutível do tempo e da fatalidade, porém deverá renascer deste já extinto passado, um ideal que deve inflamar o espírito do homem moderno, que também é um homem de privilégios!
A elegância do homem moderno deve comportar uma verdadeira mistura de maneiras de ver e sentir o mundo novo em sua volta, onde o bem e o mal intercalam-se perpetuamente. Se Paris tem mulheres da mais alta classe, por outro lado comporta um verdadeiro harém de prostitutas perdidas e infectadas por doenças venéreas!
O feio contrasta com o belo e o feio invoca um novo universo a ser explorado, ao passo que o belo justifica-se por si mesmo!
As doenças, a decomposição do cadáver, os escarros, as infecções, a solidão aguda da alma, os desesperos tediosos, o "spleem" que nasce a cada nova frustração, o fumo, o haxixe, o ópio, as decorações orientais, haréns, quartos de nababo, o estupro, os crimes perversos, os esgotos de Paris, as orgias grupais, o prazer e a volúpia do sexo perverso, tudo deverá ser repensado, lapidado, transformado em poesia e Baudelaire será o primeiro a fazer isso!
Sua poesia é um brado de liberdade, é o rompimento com o antigo padrão já saturado e até desprezado por muitos burgueses que por sinal são péssimos contemporâneos, que mal sabem compreender o valor da mais alta cultura!
O satanismo será o centro dessa nova ousadia. Vampirismo e fantasmagorias também irão ilustrar a poesia moderna do idealizador dos novos tempos!
Provando um pouco da violência satânica de Baudelaire, colhi alguns fragmentos das Litânias de Satã, inéditos:

"Ó tu, o anjo mais belo e o mais sábio senhor. Deus que a sorte traiu e privou do louvor. Tem piedade Satã, desta longa miséria!"
"Tu que és o condenado, príncipe do exílio, e que, vencido, sempre emerges com mais brilho. Tem piedade Satã, desta longa miséria!"
"Tu, sábio e grande rei dos abismos mais profundos. Médico familiar dos males deste mundo. Tem piedade Satã, desta longa miséria!"
"Tu, que bem sabes onde, nas terras mais zelosas, cioso Deus guardou as pedras mais preciosas. Tem piedade Satã, desta longa miséria!"
"Tu, cujo olhar conhece fundos arsenais, em que dorme sepulto o povo dos metais. Tem piedade Satã, desta longa miséria!"
"Pai adotivo dos que em sua ira sombria, Deus pai pode expulsar do paraíso um dia. Tem piedade Satã, desta longa miséria!"

"As Litânias de Satã" causaram um profundo impacto na sociedade parisiense. Quem era afinal aquele poeta que evocava Satã como um pai adotivo? Quem era esse tal de Baudelaire?
Este cântico de rebeldia, dedicado aos deserdados do amor e aos miseráveis, talvez tenha sido mal interpretado por seus contemporâneos, mas independente da interpretação, o fato é que mais tarde ele foi cantado em várias sinagogas satânicas secretas de Paris, por iniciados e bruxos, místicos e feiticeiros, como um verdadeiro hino, em seus rituais que sempre envolviam festins e promiscuidades sexuais.
Para Baudelaire, Satã é o símbolo mais ousado da rebeldia e da independência, uma espécie de contra veneno, fruto do próprio cristianismo já há muito tempo apodrecido.
Satã é o anjo protetor e redentor dos que se assumem verdadeiramente humanos, sujeitos impreterivelmente à fatalidade das próprias paixões do mundo.
Ironicamente, Satã conhece os segredos e os planos divinos, sabe de antemão que se existem prazeres melhores dos que os prazeres com uma mulher, Deus com certeza reservou-os só para ele!
Satã denuncia a ociosidade divina e a falta de amor ao saber que Deus vira o rosto quando sentado em sua majestade. Vê as aflições dos homens em meio à toda sorte de males e nunca os socorre!
Como em John Milton ou Álvares de Azevedo, o personagem Satã é um símbolo universal de sabedoria do Homem que encontra em Baudelaire a força centrífuga que emana de dentro da alma para fora, rompendo com as correntes dos falsos valores e da falsa moral que escravizaram tanto os homens através da religião cristã.
Não é somente esta violência satânica que está presente na obra de Baudelaire, mas o lúgubre e o tenebroso goticismo também se faz presente, como neste poema:

"A Alma do Outro Mundo"

"Como os anjos de ruivo olhar, a tua alcova hei de voltar, e para ti irei sem ruído, na noite de sombra e de ouvido.
E eu te darei, morena e nua, beijos frígidos como a lua, carícias de serpente nova, a despertar da orla da cova.
Chegando o amanhecer sombrio, verás o meu lugar vazio, que será sempre frio e quêdo.
Como os outros pela suavidade, eu sobre a tua mocidade, quero reinar, mas pelo medo!"
Também num outro poema intitulado "Um fantasma", traduzido do francês para o português por Delfim Guimarães, em primeira edição de 1909:

"Um Fantasma"

As Trevas
"Na escuridão d'esta caverna fria, onde há muito, ai de mim! Triste, rolei onde nunca penetra a luz do dia, e onde a sós com a noite me encontrei.
Lembro um pintor que fosse condenado, seus quadros a pintar na escuridão: sou como um cozinheiro esfomeado, reduzido a guisar o coração!
Às vezes, num momento o meu olhar nas trevas, um espectro vê raiar, aparição risonha e vaporosa...
E a minha razão febricitante distingue no sombrio visitante, a morena que amei-a luminosa!"


A musa, a mulher ideal, a soberana cortesã dos desejos, o vulto espectral de um belo corpo de mulher para gozar, de repente assombra a imaginação do poeta que se vê mergulhado no "spleem" e inferno da solidão, entregue às antigas lembranças do amor já passado, espectro fantasmagórico que atormenta como uma Lilith, o consciente e inconsciente não somente do poeta, mas de todos os homens sensíveis que se vêem cativos pelo poder feminino.
E o que é essa imagem senão a encarnação de sua musa, a bela Vênus negra Jeanne Duval, uma prostituta robusta que o poeta tomou por companheira?
Jeanne, "a deusa negra dos prazeres", "a víbora fatal", "senhora dos meus sentidos", "a grande taciturna", como ele mesmo escreveu, nada mais era do que uma bela mulata de cabelos compridos, de seios enormes e ancas bem largas. A mulata quase negra que lhe proporcionou os mais ardentes e calorosos prazeres, exatamente por ser uma mulher exótica, diferente das demais prostitutas de Paris, brancas e frígidas, incapazes de proporcionar aquele gozo sexual oriundo da ousadia perversa do erotismo absoluto!
Para Baudelaire, sua Jeanne era uma espécie de animal divindade feito em forma delinear de mulher ideal para o sexo, mas nunca para navegar nos ideais da alma!
O que a deliciosa mulata tinha de imponência exótica para os prazeres da luxúria, faltava-lhe na capacidade para compreender os deleites que o universo artístico poderia proporcionar.
Bem mais tarde, quando a mão gelada do tempo tocou em todos aqueles transeuntes daquela velha e desgastada Paris, a pobre Jeanne seria encontrada velha, sofrida, retalhada pela miséria e pelo sofrimento, muito doente, e paralisada pelo terrível mal da sífilis.
Baudelaire não fugiu da regra, portador também da infecção da sífilis, contraída tão logo na sua primeira mocidade. Mal e muito mal sabia o poeta do "vírus cancerígeno" que carregava já por mais de 25 anos em seu próprio sangue!
A malígna infecção causada pelo vírus "treponema pallidum", terrível mal que também só viria a ser descoberto cientificamente no começo do século XX, levou o poeta à paralisia e à morte!
No final de sua vida, com apenas 46 anos de idade, minado de um mal venéreo, o poeta morreu depois de longos meses de duro e penoso sofrimento!
Sua obra é o reflexo deste drama singular, desta interpretação da vida, dos quadros da vida que se transfiguram a todo instante, das paixões e dos desejos realizados e frustrados...
Baudelaire é o "dandy" da modernidade, o primeiro a cantar à perdição dos prostíbulos, e hoje mais do que nunca, todos os grandes centros do mundo estão repletos de pontos de prostituição, onde as mulheres da vida e do prazer fácil, expõe todos os seus languidos contornos, enebriantes por exóticos perfumes!
Provar ou renunciar a tão estonteantes tentações? Talvez o próprio Baudelaire possa nos dar uma resposta:

"Em cada minuto somos esmagados pela idéia e a sensação do tempo. E apenas existem dois meios para escapar a tal pesadelo, para esquecê-lo: O prazer e o trabalho. O prazer gasta-nos, o trabalho fortifica-nos. Escolhamos. Quanto mais nos servimos de um destes meios, mais o outro nos inspira repugnância. Sempre depois de uma orgia, nos sentiremos novamente sós e abandonados..."

Nota do Autor: Para elaboração deste artigo, foram necessários vários estudos e consultas das seguintes obras, a saber: "As Flores do Mal", e "O Meu Coração Posto a Nu", de Baudelaire; "As Flores do Mal", edição portuguesa traduzida direta do francês por Delfim Guimarães e prefaciada pelo gênio Albino Forjaz de Sampaio (1909); "Baudelaire", biografia escrita por Henri Troyat; "Cosmopolia", por Albino Forjaz de Sampaio (1922); "Iluminações e uma Temporada no Inferno", de Rimbaud; "Gigantes da Literatura", editora Verbo (1972); Fanzine Vrolok # 5 - informativo jugular, com a matéria "Baudelaire, o anjo negro"; Fanzine Revoada de Corvos # 6, especial sobre Baudelaire, editado por mim em 1999.